É somente no BRINCAR que o individuo, CRIANÇA ou ADULTO, pode ser criativo e é somente sendo criativo que o individuo descobre o seu EU. (Winnicott)
Segundo o psicanalista Winnicott (1975), no brincar, criança manipula fenômenos externos a serviço do sonho e veste esses fenômenos escolhidos com significado e sentimentos oníricos. (Profª Moema Sanchez Quintanilha, Apostila CursoArteterapia, Vez do Mestre, Mód. IV, p. 3) Para Winnicott, a brincadeira permite a associação livre de idéias, pensamentos, impulsos, sensações sem conexão aparente e emersão de idéias. Para ele, com base no brincar, se desenvolve a comunicação e se constrói a totalidade da existência experiencial do homem. (id. Ibid. p 4) “É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)” (Winnicott, 1975, p.80) “Conquanto seja fácil perceber que as crianças brincam por prazer, é muito difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar a angústia, controlar idéias ou impulsos que conduzem à angústia se não forem dominados” (Winnicott, 1966, 161) A angústia é sempre um fator na brincadeira infantil e, frequentemente, um fator dominante. A ameaça de um excesso de angústia conduz à brincadeira compulsiva, ou à brincadeira repetida, ou a uma busca exagerada dos prazeres que pertencem à brincadeira; e se a angústia for muito grande, a brincadeira redunda em pura exploração da gratificação sensual. (id. Ibid. p 5) Para Winnicott (1975), a experiência da brincadeira e do viver criativo ocupa o espaço potencial existente entre o indivíduo e o meio ambiente, dependendo da capacidade do indivíduo de confiar. (id. Ibid. p 5) Segundo o estudioso holandês Johan Huizinga (1980), não se brinca a não ser por iniciativa própria ou por livre adesão. Um brinquedo obrigatório perde o caráter de brinquedo; é evidentemente, outra coisa qualquer. ((id. Ibid. p 6) A Revista viver mente&cérebro, coleção memória da psicanálise, nº 5, Coleção memória da psicanálise, é voltada especificamente para Winnicott “Os sentidos da Realidade”. Destacamos alguns trechos das pgs. 24 e 25, artigo de Sonia Maria B.A. Parente, psicanalista, doutoranda em psicologia clínica na PUC-SP, professora da Universidade Ibirapuera. “Para ele (Winnicott), a palavra criatividade está ligada ao ser vivo, ao ‘colorido de toda atitude com relação à realidade externa’ e que permite sentir que ‘a vida é digna de ser vivida’. Em contraste, diz ele, ‘a submissão é uma base doentia para a vida’. Estabelece, assim, uma diferenciação entre a criatividade artística e psíquica. Esta se refere ao desenvolvimento da capacidade de formar símbolos e encontrar formas de expressão por meio das próprias idéias, no diálogo com o mundo de realidade compartilhada. A meu ver, é em O brincar e a realidade, quando reapresenta o artigo de 1951, que dá uma forma final à sua teoria da criatividade, aprofundando muitas das noções presentes desde A observação de bebês numa situação estabelecida, em que descreve o jogo da espátula. Enfatiza Winnicott que o brincar tem uma história, uma origem e desenvolvimento que começa nas primeiras relações entre mãe e bebê, ressaltando, ainda, a importância de ser visto, reconhecido e respeitado na própria singularidade. Em uma nota de rodapé, Winnicott afirma: ‘O sentimento de self surge na base de um estado não integrado, que contudo por definição não é observado e recordado pelo indivíduo e que se perde, a menos que seja espelhado de volta por alguém em quem se confia, que justifica a confiança e atende à dependência’. Assim, brincar é uma atividade sofisticadísima, na criação da externalidade do mundo e condição para o viver criativo, no qual se desenvolve o pensar, conhecer e aprender significativos. É brincando que se aprende a transformar e a usar os objetos do mundo para nele realizar-se e increver os próprios gestos, sem perder contato com a própria subjetividade. Por meio do brincar podemos manipular e colorir fenômenos externos com significado e sentimentos oníricos, além de podermos dominar a angústia, controlar idéias ou impulsos e, assim, dar escoamento ao ódio e agressão. Brincar envolve uma atitude positiva diante da vida. Por meio do brincar, podemos fazer coisas, não simplesmente pensar ou desejar, pois brincar é fazer. O brincar é uma experiência que envolve o corpo, os objetos, um tempo e um espaço. É como a vida: tem início, meio e fim. Enfim, brincar permite desenvolver a tolerância à frustação, canalizar a agressividade, inscrever o gesto pessoal, usar objetos da realidade externa que são transfigurados, de acordo com fantasia. Brincar é, também, a base da capacidade de discriminação necessária ao processo de aprendizagem criativo que envolve a autoria e apropriação criativa de conhecimentos. É Winnicott quem afirma: ‘A psicoterapia é efetuada na superposição de duas áreas lúdicas, a do paciente e do terapeuta.’ Quando o paciente não pode brincar, algo precisa ser feito pra ajudá-lo a tornar-se capaz de brincar, após o que a psicoterapia pode começar. O brincar é essencial porque nele o paciente manifesta sua criatividade.” Bibliografia: O brincar e a realidade. D.W. Winnicott, Imago, 1975. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 1966